A sentinela, de Richard Zimler

 

A sentinela

Num registo completamente diferente do habitual (o que só prova o talento e a versatilidade deste escritor) Zimler apresenta-nos Hank Monroe, americano de nascimento, Português de coração, inspetor da policia Judiciária e atualmente encarregue de investigar o homicídio de Pedro Coutinho, um rico construtor civil que aparece morto na sua própria casa.

Mas este não é um policial típico e Monroe é tão mais que apenas o investigador que a minha atenção  se desviou amiúde do crime para se centrar nesta personagem, nos seus dramas, na sua família, na sua personalidade fascinante.

Deste cedo sabemos que Hank e o seu irmão Ernie (outra personagem fascinante) foram vitimas de violência na infância e que isso os marcou profunda e inexoravelmente. E rapidamente descobrimos também que o Gabriel é fruto desse trauma e que é ele o protetor de todos os que rodeiam Hank. Ana, a mulher de Hank  e os seus filhos Nati e Jorge (o doce e especial Jorge e o corajoso Nati) completam o seu círculo privado e são os seus pilares.

A investigação do crime é interessante mas o verdadeiro fascínio deste livro é mesmo a carga emocional e a luta dos personagens.

Não foi um livro fácil de ler. Duro. Real, demasiado real. Arrepiante. Volta e meia o nojo e a raiva eram tudo o que conseguia sentir. Temas como a pedofilia, a violência física e psicológica, o transtorno de identidade dissociativa, a corrupção, a crise, o amor, a lealdade, a intimidade, a cumplicidade são esmiuçados neste livro e nem sempre o resultado é aquele que esperamos.

Zimler não é bondoso com o leitor e não nos conta um conto de fadas. Obriga-nos a olhar para o lado negro e a perceber que a realidade está ali ao nosso lado, enraizada no nosso mundo, por mais pequeno que ele seja, e que o “e foram felizes para sempre” simplesmente não existe fora dos livros infantis.

Este é um livro corajoso.

 

Não é novidade para quem me conhece que Richard Zimler é um dos meus escritores favoritos. Este livro é diferente de todos os outros do autor que já li mas arrisca-se a ser um dos meus favoritos.

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