“Sonhos azuis pelas esquinas” de Ondjaki

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Terminei a leitura de “Sonhos azuis pelas esquinas” num estado de espírito idêntico ao que senti quando acabei de ler, há uns meses atrás,“Os Transparentes”: com uma imensa vontade de continuar a explorar a obra de Ondjaki. Este pequeno volume, de aparência algo discreta, perdido na miríade de livros que povoam as estantes e os escaparates das livrarias, poderá parecer apenas mais um. Nada disso. Não é apenas mais um livro mas sim um sortilégio, um encantamento, uma espécie de concentrado de grande beleza sob a forma de palavras. O leitor encontra-se perante um conjunto de divagações oníricas de natureza muito diversa, um labirinto de sonhos, por vezes misteriosamente intrigantes, outras nem tanto, mas sempre imbuídos de sentidos e sentimentos, de emoções e de uma certa musicalidade feita palavra. Perder-me neste labirinto maravilhoso foi, pois, um enorme prazer.

Ondjaki é um verdadeiro Encantador de Palavras. E este “Sonhos azuis pelas esquinas” é um percurso literário que agradará a todos aqueles que gostam de se deixar fascinar pela pura perfeição das palavras. A ler, sem sombra de dúvida.

Excertos:

“Tinha nos olhos o peso de muitas viagens mas uma leveza de quem fez da vida simplesmente um aprendizado de bom humor.”

“Não fazer nada é uma questão de dedicação, não do número de pessoas. Valoriza-se mais a intensidade do que a quantidade.”

“Estar mudo, pensei, não é só não ter o que dizer. É também estar cheio de outras coisas que nos ocupam, e nos invadem, e nos sobrepõem de silêncio.”

“na minha varanda ouço o mar. o passarinho provoca as ondas, as pedras beijam a água. quero só esta visão de sonho repousado no meu olhar. Olho o limo das pedras e a poeira dos galhos – eu sou apenas o que vai desta margem à berma daquele cais.se eu tivesse pés de ficar e a minha vida não fosse em outros lugares, aceitaria uma vida aqui, plena de sobejares, pano vermelho enrolado ao pescoço, destino incerto, pedras, gatos, paz e o mar aqui tão perto.
que brandura, que tranquilidade…
oiço o barco. Para lá das ruas e das sombras espera-me o cais de partida e o mar.”
 
“se me deito entre o teu olhar e a sombra densa da madrugada, adormeço. e que pesadelo bonito tenho ao frequentar o teu sono, aí onde dormes quieta e leve, de curta penugem vestida e pele doce a acompanhar-te o corpo – sonhos pendurados, inofensivas adagas, humidades arremessadas à noite contra a solidão. Beijo e brandura. mão e músculo. seio e sensualidade.
és a madrugada onde o tango prolifera.”

2 pensamentos sobre ““Sonhos azuis pelas esquinas” de Ondjaki

    • Todo o livro é de uma beleza impressionante. Num certo sentido lembrou-me a escrita do Afonso Cruz. Deslumbrou-me mesmo. Obrigada! 🙂

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