Quando li este livro andei a “digeri-lo” para escrever esta opinião…
A proximidade da minha vivência com o cancro do pulmão – infelizmente reincidente – e a maior semelhança ainda com a minha história com a minha melhor amiga levaram-me a fazer uma leitura bastante lenta deste livro…
Um livro sobre a amizade, mas também sobre a força, o superar dificuldades e o superar-se!! “Numa situação de crise, fechava-me a mim própria, mais receosa de que alguém me desiludisse do que de ter de fazer as coisas sem ajuda.” (p. 122)
Com Gail e Caroline mergulhei no mundo desconhecido do alcoolismo, e senti-me perturbada com toda a sua envolvente, com os subterfúgios que se escondem em cada pessoa que se refugia na bebida. “(…) o mundo tal como o vemos é apenas uma versão publicada. (…)” (p.81)
Ao longo deste livro assistimos a vários momentos de libertação, à sedimentação de uma amizade e à sobrevivência após o luto, os vários lutos, porque ao longo da história vamos acompanhando vários lutos. Como diz Gail “(…) é possível atravessar o medo e sair chamuscado, mas a respirar. (…)” (p. 90)
Esta história autobiográfica é um relato bem vívido do sofrimento e da dor, mas como podemos ler na contracapa, uma ode à força da amizade e do amor. Porque “No que diz respeito ao sofrimento, a única educação que cada um de nós recebe é um curso intensivo.”
(p.166)
“Sempre me haviam desagradado os eufemismos que a civilização adoptara para a morte: «foi-se», «partiu», «faleceu». Pareciam-me evasivos e sentimentais, uma forma de branquear o conceito de morte, retirando-lhe a sua força declarativa. Agora, eu sabia por que motivo o vocabulário fora suavizado.” (p.168)
“Hoje sei que nunca ultrapassamos as grandes perdas: absorvemo-las e elas esculpem-nos até nos tornarmos uma pessoa diferente, frequentemente mais generosa” (p. 199)
Saí deste livro com o coração do tamanho de uma noz mas jamais deixaria de o ler. Ler Gail, conhecer a história da sua amizade com Caroline fez-me crescer porque “(…) O sofrimento é o factor que muda o final do jogo (…)” (p. 159)
Sinopse
A história de um amor sem limites «Esta é uma velha história: eu tinha uma amiga com quem partilhava tudo, até que ela morreu e também isso nós partilhámos.Um ano depois de ela ter partido, quando eu julgava já ter ultrapassado a loucura daquele sofrimento inicial, caminhava no parque de Cambridge onde durante anos Caroline e eu passeámos os cães. Era uma tarde de inverno e o local estava vazio – a estrada fazia uma curva, não havia ninguém à minha frente nem atrás de mim e eu senti uma desolação tão grande que, por momentos, os meus joelhos ficaram imóveis. “O que estou aqui a fazer?”, perguntei-lhe em voz alta, habituada agora a conversar com uma melhor amiga morta. “Devo seguir em frente?”
Livros d’Hoje, 2012